“Ainda que eu falasse a língua dos homens. E falasse a língua dos anjos. Sem amor eu nada seria”. Já dizia Renato Russo, na bela canção Monte Castelo, que todo ser humano deseja amar e ser amado. Esses lindos versos inspirados na Bíblia e em Camões, refletem o que há de mais belo no ser humano: a capacidade de amar.
“É só o amor, é só o amor. Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal. Não sente inveja ou se envaidece”. Porém, o amor verdadeiro é aquele que traz alegria, felicidade, que é bondoso e tem compaixão. Só ele pode trazer felicidade. Quando amamos deixamos de ser uma fonte de sofrimento e nos transformamos em reservas de alegria e vitalidade, que podem beneficiar a nós mesmos e a todos que nos cercam.
Mas, esse sentimento também é preciso ser fortalecido, cultivado e renovado. Temos que regar as nossas sementes de amor diariamente, para que possamos aprender a lidar com sentimentos negativos, como a raiva, a desatenção e o ciúme. Quantas vezes nos deparamos com situações que acabamos trazendo a tona sentimentos como esses? Sentimentos que geram tristeza e desconforto e acabam por tirar a nossa paz. Por isso, é preciso dar asas ao seu amor, deixar que ele possa fluir de maneira natural e verdadeira, que ele possa florescer e se livrar de tudo que é pesado.
De acordo com os ensinamentos budistas, se não formos capazes de nos amar e cuidar de nós, não podemos ser muito úteis para ninguém. Para Buda, o ser humano compõe-se de cinco skandhas (elementos / agregados): forma, sentimentos, percepções, formações mentais e consciência. Somos o rei e esses elementos são nosso território. Para tomarmos conhecimento da real situação devemos pesquisar nosso território. Para criar harmonia em nosso interior e um ambiente favorável, para fluir o amor verdadeiro, devemos compreender a nós mesmos.
De início perguntamos: como está meu corpo neste momento? Como estava no passado? Como estará no futuro? Podemos também praticar meditação voltada para o sentimento do amor. Começando a cultivar nosso próprio amor e depois também pensando nas pessoas que amamos, e assim, aos poucos, vamos conseguindo nos entender e a compreender quem amamos.
Todo esse processo nos leva a um maior cuidado com nosso corpo, através dos alimentos que ingerimos, das práticas que escolhemos em nossas vidas. Analisando as condições do nosso corpo e órgãos, tomamos conhecimento das suas necessidades reais. Isso nos leva a comer, beber e agir de uma forma que demonstra amor e compaixão por nosso corpo. Em geral nos limitamos a seguir hábitos arraigados, mas quando pensamos bem, percebemos que esses condicionamentos fazem mal para o nosso corpo e mente. Neste momento, começamos a trabalhar para transformar esses padrões e obter mais saúde e vitalidade.
Assim é como os sentimentos – tanto os agradáveis quanto os desagradáveis ou neutros. Eles são como um rio, que flui, e devemos observá-los. Pensando naqueles que até agora nos impediram de ser felizes e fazer o melhor possível para transformá-los. Dessa maneira, conseguiremos entrar em conexão com elementos curativos e renovadores que já existem em nós e ficamos mais fortes. Assim, aumentamos nossa capacidade de nos amar e de amar os outros.
Temos que meditar e analisar também nossas percepções, formações mentais – ideias e tendências que nos levam a agir de determinada maneira. E claro, nossa consciência. Segundo o budismo, a consciência assemelha-se a um campo onde se encontram todos os tipos de sementes possíveis – de amor, compaixão, alegria, equanimidade; sementes de raiva, medo, ansiedade; além de sementes de atenção plena. Para viver em paz, precisamos estar cientes das nossas tendências – as energias do hábito – e dessa forma exercitar o autocontrole.
Temos que praticar observando profundamente o dia todo – durante a meditação sentada, andando, no trabalho e em casa. Desse modo vamos descobrir a natureza dos cinco skandhas e poderemos identificar as condições que nos levam a ser como somos, facilitando a nossa auto aceitação. Amar é antes de tudo nos aceitarmos como realmente somos. “Conhecer a si mesmo” é a primeira prática do amor.
Dê asas ao seu amor. Deixe-o fluir em você e se estender para as outras pessoas !!!