Algumas pessoas ainda se confundem sobre o objetivo da prática do Yoga. A visão comum relaciona o Yoga somente a uma atividade física, mas há muito mais por trás dessas quatro letras do que apenas um exercício. Existe uma filosofia transformadora que vem junto com a prática do Yoga e ela é capaz de provocar uma verdadeira transformação na vida das pessoas, que começam a se autoconhecer e viver de maneira mais equilibrada.
Quando falamos sobre o Yoga, tanto sua prática como a sua filosofia, é impossível deixar de mencionar Patanjali. Patanjali é conhecido como o autor dos Yoga Sutras, um texto sagrado que se tornou uma referência para a prática de yoga em todo o mundo. Acredita-se que ele tenha vivido na Índia há mais de 2.000 anos e tenha sido um sábio e filósofo que dedicou sua vida a estudar e ensinar sobre yoga.
O Yoga Sutras de Patanjali é composto por 196 aforismos. Estes, descrevem a filosofia do Yoga e as práticas que levam à realização pessoal e à união com o divino. O segundo capítulo do livro é dedicado aos Niyamas, que são os princípios de conduta pessoal que ajudam a cultivar uma relação saudável consigo mesmo.
Os Niyamas incluem cinco preceitos:
- Saucha (pureza)
- Santosha (contentamento)
- Tapas (disciplina)
- Svadhyaya (autoestudo)
- Ishvara Pranidhana (rendição a Deus)
Eles são uma ferramenta poderosa para desenvolver a autodisciplina, o autocontrole e a conexão espiritual com o universo.
Patanjali enfatiza que os Niyamas não são apenas uma lista de regras a seguir, mas sim um caminho de autoconhecimento e autotransformação. Ele acreditava que o verdadeiro sucesso na vida é alcançado através da busca do equilíbrio interno e da conexão com o divino, e que os Niyamas são uma parte fundamental desse caminho. Por isso, sua contribuição para os Niyamas é de fundamental importância para a prática do yoga e para a busca do bem-estar emocional e espiritual.
Vivemos em um mundo tão acelerado e exigente, que muitas vezes esquecemos de nos cuidar e nos ouvir. Com o Yoga, passamos a ter contato com o autoconhecimento e, por meio da filosofia por trás da prática, descobrimos um universo de possibilidades de melhorias para a nossa vida. Encontramos o equilíbrio.
Uma das formas de encontrar a harmonia dentro de nós mesmos é por meio dos Niyamas. Eles são, basicamente, princípios que nos ajudam a cultivar uma relação saudável e amorosa com nosso próprio ser. Respire fundo, abra seu coração e venha conosco nessa jornada de autoconhecimento e amor próprio.
Os cinco Niyamas
Enquanto os yamas são focados em como você age no mundo, os niyamas são como você age em relação a si mesmo. Eles ajudam a manter o ambiente positivo para o fortalecimento e crescimento da autodisciplina e da força interior necessária para progredir no caminho do Yoga, são cinco niyamas:
- Saucha – Pureza
Saucha significa pureza, limpeza ou higiene em sânscrito. Este é o primeiro princípio dos Niyamas. Ele nos ensina a importância de manter o corpo e a mente limpos e puros para alcançar um estado de equilíbrio interior.
Saucha não se limita apenas à higiene física, como tomar banho, escovar os dentes e usar roupas limpas. Ele também se refere à limpeza interna, que inclui a purificação da mente e das emoções. Para isso, é importante praticar a meditação, que ajuda a limpar a mente de pensamentos negativos e ansiedade, e a cultivar pensamentos positivos e amorosos.
Saucha também pode ser praticado na alimentação, escolhendo alimentos saudáveis e frescos que ajudem a limpar o corpo e a mente. Além disso, é importante manter um ambiente limpo e organizado, que proporcione uma sensação de paz e tranquilidade.
Esse princípio está relacionado com o corpo energético e físico. As práticas de pranayama, asana e meditação limpam e purificam a mente e o corpo, além de fortalecer a capacidade de manter um estado puro do ser. É fundamental cuidar para que objetos e situações externas não interfiram no corpo e na mente como amigos, bebidas, comidas, entretenimento, transporte, etc.
- Santosha – Contentamento
O princípio Santosha, ou contentamento, é o segundo dos cinco Niyamas descritos no livro Yoga Sutras de Patanjali.
Santosha é uma atitude mental que envolve a aceitação e gratidão pelo momento presente, independentemente das circunstâncias. É a prática de encontrar a felicidade e a satisfação interior, em vez de buscar a realização em coisas externas, como bens materiais, status social ou relacionamentos.
Seguir o princípio de Santosha não significa ignorar ou suprimir as emoções negativas. Aqui, o que devemos fazer é aprender a lidar com elas de maneira equilibrada e positiva. A prática de Santosha ajuda a desenvolver a paciência, a tolerância e a empatia, além de reduzir o estresse e a ansiedade.
Patanjali ensina que o contentamento verdadeiro surge quando se aceita o momento presente com gratidão e humildade, sem apegos ou expectativas. Ele acreditava que a busca incessante pela felicidade externa leva apenas à insatisfação e ao sofrimento, e que a verdadeira felicidade é encontrada dentro de si mesmo.
Por isso, a prática de Santosha é uma importante ferramenta para encontrar a paz interior e a felicidade duradoura. Ela nos ajuda a valorizar as coisas simples da vida, a cultivar uma mentalidade positiva e a viver no momento presente, com gratidão e alegria.
- Tapas – Autodisciplina
O princípio “Tapas” é o terceiro dos cinco Niyamas descritos no Yoga Sutras de Patanjali. A palavra “tapas” vem da raiz sânscrita “tap”, que significa aquecer, purificar ou transformar. Esse princípio se refere à autodisciplina e ao comprometimento que precisamos ter para alcançar nossos objetivos.
De acordo com o Yoga Sutras, o Tapas envolve três aspectos principais: austeridade, esforço e paixão. A austeridade é a capacidade de resistir a tentações e desejos que possam nos afastar do caminho do autoaperfeiçoamento. O esforço se refere à energia e dedicação que colocamos em nossa prática, seja ela física, mental ou espiritual. A paixão é a motivação interna que nos impulsiona a continuar em nosso caminho, mesmo quando encontramos obstáculos.
O Tapas pode ser praticado de várias maneiras, como por exemplo, através da prática regular de yoga, meditação ou outras disciplinas espirituais. Também podemos praticar o Tapas em nossas vidas cotidianas, tomando decisões conscientes e comprometidas com nossos objetivos e valores pessoais.
Ao praticar, cultivamos a autodisciplina, a determinação e a resiliência necessárias para superar nossas limitações e alcançar nossos objetivos. Dessa forma, podemos evoluir em nosso caminho de autoaperfeiçoamento e crescimento pessoal, alcançando uma maior harmonia e equilíbrio em nossas vidas.
Quando o comprometimento entra em conflito com os nossos desejos, é criado um “fogo” que incendeia as impurezas mentais e físicas. É chamado de tapas esse fogo interno. É um processo de purificação e conscientização em relação aos impulsos e a má conduta.
- Svadhyaya – Autoestudo
O princípio “Svadhyaya” é o quarto dos cinco Niyamas descritos no Yoga Sutras de Patanjali. É muitas vezes traduzido como “autoestudo” ou “autoinvestigação”. Este princípio incentiva a prática de refletir sobre si mesmo, buscando compreender as motivações, desejos e comportamentos que governam a própria vida.
Segundo Patanjali, o autoconhecimento é uma parte fundamental do caminho do Yoga, pois somente quando entendemos a nós mesmos podemos começar a transformar padrões de pensamento e comportamento que nos limitam e nos impedem de atingir nosso potencial máximo.
Ao praticar Svadhyaya, a pessoa pode explorar a si mesma de diversas maneiras, como através da leitura de textos sagrados, meditação, reflexão e observação dos próprios pensamentos e ações. Isso ajuda a criar uma maior consciência e compreensão das emoções, motivações e padrões de comportamento, permitindo a identificação e superação de obstáculos internos.
É importante ressaltar que o autoestudo não se trata de um processo de julgamento ou crítica, mas sim de um processo de observação amorosa e compassiva de si mesmo. É uma prática que leva ao autoconhecimento, aceitação e transformação positiva, ajudando a cultivar uma relação mais saudável consigo mesmo e com os outros.
Em resumo, o princípio de Svadhyaya nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e a investigar nossas motivações, desejos e comportamentos, para que possamos evoluir e nos tornar a melhor versão de nós mesmos.
- Ishvara pranidhana – Rendição ao divino
O princípio de “Ishvara pranidhana” é um convite para o praticante de yoga cultivar uma conexão profunda com o universo, reconhecendo que existe uma força maior que governa a vida e o mundo. Essa entrega completa ao Ser Supremo pode ser vista como uma fonte de alívio e paz interior, pois permite que deixemos de lado as preocupações e ansiedades do dia a dia, e confiemos em algo maior que nós mesmos.
Ao praticar “Ishvara pranidhana”, podemos sentir a presença do divino em nossas vidas e experimentar uma sensação de conexão espiritual que vai além das nossas limitações físicas e mentais. Essa conexão pode nos ajudar a lidar melhor com as dificuldades e desafios que enfrentamos e nos trazer uma sensação de propósito e significado.
Cada um pode cultivar esse princípio dos Niyamas de uma maneira diferente, através da meditação, oração ou simplesmente entregando-se ao momento presente e permitindo que a vida siga seu curso natural. Mas independentemente da forma como escolhemos praticá-lo, o importante é manter o coração aberto e a mente receptiva, permitindo que a presença divina preencha nossas vidas com amor, paz e sabedoria.
Como colocar em prática?
Embora os yamas e os niyamas devam ser colocados em prática dentro dos asanas para que seja possível incorporá-los cada vez mais no dia a dia, existe um tripé que é a base das práticas de Asanas, são eles: Ahimsã, Asteya e Swadhyaya.
O primeiro Yama é o Ahimsã, ou seja, a não-violência, isso quer dizer que nunca devemos ir além do limite que o nosso corpo permite naquele momento, porque podemos nos machucar. Porém, se observarmos Ahimsã sem olhar para o Asteya, que é não-roubar, podemos e geralmente ficamos muito aquém de onde poderíamos chegar. É aqui que entra a terceira peça do tripé: o niyama, Svadhyaya, ou seja, o estudo de si mesmo.
Sem esse último, os outros não podem ser colocados em prática, porque é este que mantém ao longo de toda a prática a nossa atenção entre onde estamos e onde devemos chegar.
Mas, essa não é a única maneira de colocar os Niyamas em prática. Cada um dos niyamas têm um caminho: o primeiro, Saucha, ou pureza, é desenvolvida aquecendo o corpo no fogo do Yoga, por isso Gheranda no Gheranda Samhita diz: “aqueça seu corpo no fogo do Yoga a fim de fortificá-lo e purificá-lo”.
Outro ponto importante do Saucha é que quando pressionamos um ou mais órgãos ao longo da realização de um asana reduzimos a quantidade de sangue neste órgão e quando desfazemos o asana a quantidade de sangue aumenta, inundando e banhando com sangue novo, o tornando mais limpo e puro.
Já o segundo, Santosha ou Contentamento é desenvolvido entendendo o estágio em que o seu corpo se encontra neste momento exato. Se hoje ele só permite ir até um determinado ponto, se sinta contente em relação a isso, o que não quer dizer criar uma atitude conformista e acomodada, mas sim ter a compreensão de que a repetição o conduzirá para a sua meta no momento certo.
O terceiro niyama, tapas, geralmente também é desenvolvido a partir do aquecimento do corpo no Yoga. E o quarto, como já explicamos, faz parte do tripé que é fundamental para a prática.
O quinto e último niyama, Ishwara Pranidhana, que é a rendição ao divino, é desenvolvida assumindo uma postura de entrega em relação aos asanas, principalmente quando este não nos é confortável. Nessas situações, a nossa tendência é resistir, tensionando o corpo, atrapalhando a respiração e, consequentemente, aumentando o desconforto durante a postura. Por isso, precisamos nos render, entregar o nosso corpo durante a realização das asanas.
Agora você já sabe o que são os Niyamas do Yoga e como colocá-los em prática. Para ter acesso a mais conteúdos exclusivos como este, acompanhe o blog do Gaya Bem-Estar e também siga a nossa conta no Instagram.
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